terça-feira, 16 de dezembro de 2008

EU ODEIO DRUMMOND.

Sabe quando você não consegue dormir porque tem na cabeça um pensamento-pernilongo, aquele que fica te zunindo as idéias e te chacoalhando quando você ameaça cochilar?
Meu pensamento-pernilongo é o Drummond, filho-da-puta Drummond, não posso lê-lo antes do deitar, se assim faço, vejo clarear o dia como se tivesse tomado dois litros de café.

DIA DESSES

Eu sonhei que ele estava cruzando a porta, a velha porta do velho apartamento da velha cidade de sempre como se ele tivesse voltado do espaço, carregados de pontinhos luminosos pelo corpo, como se tivesse encostado e se sujado de pó de estrela. Ele no meu sonho entrava e dizia que estava de volta, mas que logo iria novamente, o espaço o aguardava e a terra lhe parecia pequena.
Menor era o apartamento que parecia espremê-lo a ponto de fazê-lo sufocar e tossir.
Nesses momentos de tensão ele enfiava a mão por uma bolsa que trazia consigo, tirava de lá um pó e recobria o chão da sala, e dizia que assim se sentia melhor e eu também me sentia inexplicavelmente melhor depois que o pó se depositava calmo sobre o assoalho.
Então, no sonho, ele se deitava e me puxava pra perto e eu mal podia acreditar que ele estava ali de novo, que ele tinha voltado e mais uma vez eu podia abraçá-lo, e mais uma vez podia cheirá-lo como eu fazia, como eu sentia, Meu Deus! Como eu sentia...
E então a gente dormia sobre aquele pó e sobre o chão recoberto por ele, sobre a casa, sobre o telhado, sobre todas as luzes, sobre a terra, sobre os nossos ossos, sobre tudo mais que poderíamos, dormíamos sem dormir, repousávamos no abraço.
Eu acordei. Sentei na cama, me amarrei a lembrança do sonho como um menino a segurar pela linha de uma pipa que vai lá no céu, bem longe, como um menino que não quer se desfazer de um bem tão precioso, eu segurei meu sonho.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


Mas a pressa que essa calma veio a me atingir que hoje eu canso de tanta calma, de tanto nada pra fazer. A calma veio às pressas e eu afoito a esperá-la. Digo que preferia os tempos de guerra porque assim via cruzar o sol no dia e a noite tinha o porquê descansar.
O tempo me arrebata chicoteando as minhas costas segundo a segundo com seus ponterinhos fininhos como os dedos da morte, como os galhos de uma arvore seca, como as letras escritas num obituário. Cabe a mim nessas tarde longuíssimas escrever um pouco sobre o que mais me afligi e procurar briga com os relógios, como fazem os cachorros pela rua:
-Essa é minha carniça! - puxo eu por um lado de minha vida
-Essa carniça é minha! - rebate o tempo pelo lado oposto.