quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Dilema


Se antes eu cabia nas roupas e acordo um dia sem mais caber, quando se é criança parece normal. Não cabia mais dentro das roupas de 6 anos quando completei os 10, nem cabia mais nas de 10 quando cheguei aos 20 e, por tanto não caber, fui de concha em concha procurar abrigo.
O homem sabe se portar diante de uma situação estranha, dentro do que possa ser social, entre escorregões e saias justas, um homem civilizado faz caber sua boa educação e se livra dos constrangimentos. Eu não cabia.
Mal me acostumara com o que eu pensava nunca cabendo dentro do pensamento, sempre sobrando barbelas, retalhos de coisas que eu não entendia, só sabia daquilo que estava contido na dimensão do pensamento, mas eu pensava maior.
Como se você vestisse botas e seus dedos ficassem para fora, se sente calor nos pés, porem os dedos ficam frios, por estarem sobrando no calçado. Confundo-me tentando explicar.
Eu, desde que nasci, nunca coube em mim, nas dimensões de meu corpo, ou de meu pensamento, como se nunca pudessem acompanhar meu crescimento real como se tudo obrigasse a espremer meu corpo entre paredes,entre pessoas, entre as falas, entre os cães, os dias, os relógios, entre os carros, me forçando ser muito menor do que sou. Hoje diria que meu dilema é ser grande demais, conhecer o limite de tudo e não conhecer de verdade todo o meu complexo organismo e suas possibilidades. Tornei-me um grande boneco, sem ações calculadas, deixando que os espaços me digam o que fazer.
Imagem: Jonathan Braga, parceiro de tantas artista incrível... para mais obras dele: